quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

poça

Estou entre silêncios
Ouço perto, sussurro longe
Tento escutar-me
Mas ensurdeço
Calo

Estou entreatos
Silencioso à espera de mim
Do que seria
do que fui
do que sou

Estou entremeado
Chego a estar lambuzado de mim
Perdi a solidez. Estou ralo
Escapo pelas minhas mãos

Sob meus pés há uma poça do meu presente

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ir e vim

Mesmo sabendo nadar
Prefiro ir pelas bordas
Pela segurança
O meio assusta
A água pode me levar
E se eu for com o seduzir do mar?
Lá no alto me sinto só, sem margens
Sem saber se dali
Consigo voltar a aterrar

Simpatia

Entre mim
Passa o que eu sou
Nasço aqui
Morro ali
Surjo na mais tola respiração
E sumo naquela banal situação


Se soubesse o que sei
Não despareceria
Tampouco visível ficaria
A minha revelia

sexta-feira, 1 de abril de 2011

re-existir

às vezes me sinto esquecido
por mim, pelo outro, pelo mundo
parece que à toa, desapareço
sem forças para re-existir
sem mundo, afundo mudo
não olho nem sou visto
não sinto nem sou sentido
não vibro, nem soou
não re- existo
morro diante da falação alheia
acuado, parado, pairo a espera

vagueio entre os silêncios de semipessoas
sem vazios que as completem
estufado da realidade
me encho de tudo
e do nada também
minha boca está seca de palavras
e não quero calar
muito menos falar

de onde estou
o que me resta sou eu
e o que sou se não me recomeço
estou sem medidas
as vezes falto
outras excedo
vazo e transporto
esturricado pela vida
inundado e sem forte

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vida acordada

Acordei com cheiro de memória
Com um olhar de criança
De quem vê com o olfato de lembranças
E, por isso, sorri sem razão
Com a alma aberta
leve para o novo
pairando em paz comigo mesmo

sobre as minhas vidas
águas de almas me saciam
brinco com respingos de antes para refrescar o presente.
tomo banhos do que já fui
para, enxuto, saber que sou

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

vida corrente

Um barbante perpassado entre um e outro canto da boca suspendia um sorriso que de tão repetidamente falso se tornara verdadeiro. Uma verdade decorrente, de correntes que não arrebentei .

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

deságues

De dentes cerrados
desgasto a mim mesmo
enquanto sinto meu sabores, salivo-me
estou imerso nas minhas águas
brisa, vento, tormentas
vagas tempestades nervosas
empurram distâncias
nem lá, tampouco cá
sem meio, sem terra à vista
a mercê de mim mesmo
aterro, embargo a língua
engulo gostos correntes
vou, vou indo
navegando nas minhas veias
encalho nas minhas tolices
largo o remo
preciso desaguar