Foi assim
como que
nem sei
que àvida
ela se passou
Essas são as minhas poesias, feitas há tempos, de tempos em tempos, que compilei em um livro, ainda não publicado, por ora chamado de Versos Primos. São de Preto, porque são minhas, Preto Moraes. São de preto,porque sou negro. São de preto, porque me cai bem seja como for, porque me lembra quem sou. São de preto mas são multicores
terça-feira, 30 de outubro de 2007
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Chapado
Um risco de suor
crava aquele rosto no meio do dia
concreta a pele cozida pelo mormaço da hora
ainda há bafos de arrotos do almoço mal digerido
andou comendo lesmas refogadas num caldo de ácido
a quentura ferve em um hálito de nuvens
que se desfazem com a luz do sol
Furiosa, a atmosfera racha face a ilusões
Um suspiro mirrado trilha órbitas distantes
Entoa ecos de aves ossudas
Do alto daquele céu cego, o aço cintila sons
Que brilham no esquecimento desse que desce
Que curva diante da displicência de sombras
Da solidão seca da luz chapada
Da vida sem nuances
Do brilho do asfalto escuro
crava aquele rosto no meio do dia
concreta a pele cozida pelo mormaço da hora
ainda há bafos de arrotos do almoço mal digerido
andou comendo lesmas refogadas num caldo de ácido
a quentura ferve em um hálito de nuvens
que se desfazem com a luz do sol
Furiosa, a atmosfera racha face a ilusões
Um suspiro mirrado trilha órbitas distantes
Entoa ecos de aves ossudas
Do alto daquele céu cego, o aço cintila sons
Que brilham no esquecimento desse que desce
Que curva diante da displicência de sombras
Da solidão seca da luz chapada
Da vida sem nuances
Do brilho do asfalto escuro
domingo, 19 de agosto de 2007
Encarna
À tarde, domingo cai vermelho
pende para a escuridão
pensa nos olhos encarniçados
sangra à despedida do começo
pisca na realidade de uma pomba
que embica na solidez do aço
e guarnece o pôr com sua natureza impar
às tardes, a de domingo péla ossos quebradiços de branco
do incerto futuro desabitado
sem pegadas
pronto para ser encarado
terça-feira, 14 de agosto de 2007
aqui e não ali
o que lhe cai em uma tarde de chuva
na qual exalas o que não consegue reter?
Que opções podem a ti arrastar dessa cama incômoda
dessas marcas e cheiros que pesam?
poderia mensurar o tempo
soma um a um os segundos
até ninar um minuto
repetir
e
chegar ao meio termo das horas
e
depois ir a elas crente
poderia ainda
depor o depois
e encher as horas de ti
tudo sem sair da cama
sem desprender-se do conforto
sem arriscar-se à linha
e expor-se ao sol sem vento
para proteger-se da luz de fora
resguardar o que é ainda
aqui e não ali
na qual exalas o que não consegue reter?
Que opções podem a ti arrastar dessa cama incômoda
dessas marcas e cheiros que pesam?
poderia mensurar o tempo
soma um a um os segundos
até ninar um minuto
repetir
e
chegar ao meio termo das horas
e
depois ir a elas crente
poderia ainda
depor o depois
e encher as horas de ti
tudo sem sair da cama
sem desprender-se do conforto
sem arriscar-se à linha
e expor-se ao sol sem vento
para proteger-se da luz de fora
resguardar o que é ainda
aqui e não ali
Me-ditando imagens
De frente para a TV
Medito imagens
Esqueço dos meus
E atiro-me aos outros
Perco sentidos
Arrumo aqui e ali
Mas nada conforta
As imagens não grudam
Passam, passam
E passando acumulam vazios
intervalos de cílios
Quando estou averso
dou trela para a tela
Quando estou em pó
Dissolvo-me em um nó
Quando estou viscoso
Grudo-me de remorsos
finco as unhas na imagem
e agarro naquela
em que me teletranstorno
Desvirtuo-me
Para criar realidades
Que a mim suportem
E que me esqueçam sob os lençóis
Onde desfragmento-me em frente a bela
e reconheço em vários...um eu
Sem janelas
Perdi as janelas
as minhas
Fiquei sem horizonte
A ver o escuro rente a mim
solidificando possibilidades
enraizando breus que ameaçam a minha lucidez
Fiquei alheio
Excluído do que observava pelas minhas janelas
Tiradas de mim
sem espaço vazios
com ausências preenchidas
pelo que mais temia
A imagem dos outros
agora refletia em mim
não mais as observava
agora as sentia
O espelho grudado na mente enferrujou
O tempo contado não passava
Fiquei eternamente em mim
segunda-feira, 25 de junho de 2007
ia
aquele
Servidão coletiva
sábado, 2 de junho de 2007
liberdade
indeciso entre passado e futuro
sentado sobre versos
vagueio pelo tempo de dores
sinto hoje o que não sei de quem é
o que passou, o que ficou, o que não passará
procurando portos que não mais existem
navios que não mais navegam
águas que não mais transportam
estou em terra firme
diante de lembranças que ainda açoitam
de dores que escravizam
gritos alheios saem pela minha boca
lágrimas do passado fazem chorar
sangues já derramados escorrem
tingem de ferrugem meus olhos de agora
e vou
e venho
e permaneço
em lugar algum
sei que estou perdido
dou voltas onde desconheço
as rugas de outros desenham a minha aflição
trazem à face, a cor do ciente
tiram a cal
a membrana imposta
e o negro envergonhado expira
silêncios
nos silêncios arrastados de um dia cansado
curvo diante da longevidade
respiro fundo para reaver fôlego
o ar que me adentra não areja
continuo tenso, com cara de tédio
com fastio do que não provei
tire o prato da minha frente
o cheiro do futuro me incomoda
deixa eu me retirar
dar de costas para a mesa
medir os passos até a porta
atravessá-la
reter-me por nada
e depois.....
voltar
dar as costas para a porta
olhar para dentro
medir os mesmos passos
sentar-me à mesma mesa e voltar ao mesmo ermo
lá fora
o sol a pino faz brilhar o asfalto
enrugo a testa
levanto os olhos
aqui
debaixo da mesa, meu pés
descalços estão em chamas
atado a minha dor
à mesa e de pés cozidos
carrego nuvens ralas de areia
rumino, rumino
olho para um
depois para o outro lado
estou aqui
aqui foi permanecer
eternizado em mim
mirando moscas
estou aqui
à revelia de mim
menos uma tarde
a tarde cai
e eu
desabo a enrolar desesperos
a cozer a desilusão de destinos
a borrar linhas de horizontes
a desfalecer
desistir de sonhar
a tarde cai
e
nada pode ser feito
esse é o destino das tardes
e
a mim
resta o cheiro que o fim exala
nada mais
quando os espirros expiram
o finito aperta
o real comprime
e
rememora-se o vazio do que se foi
ferindo como fumaça de cigarro já sugada
e
depois expelida
ecos frios
sob o limbo dos meus casarões antigos
respiro ecos frios de memórias
são áreas úmidas, gelam o que não há mais em mim
congelo deitado na cama envolto em imagens sólidas
o lençol é branco e pesa tal qual tela de tear
é difuso o que me separa do topo da cumeeira
não mais alcanço essas alturas
estou mais curvo, vôo baixo
o limbo, até esse enxergo pouco
só sinto o forte cheiro da sua presença
pouco vejo os entrelaçamentos das telhas
formam caminhos já percorridos
levam a lugares passados
a voltas mal dadas
a linhas finas
a tetos escorregadios
ainda a brisa escassa sopra entre as teias velhas das telhas
respiro os restos do ar de fora
estou cá, desse lado, na parte úmida da vida
ar de escravidão
um ar sorrateiro entranha
pela fresta esquecida
areja solidão
revira folhas caídas há muito
arranha o chão áspero da memória
descasca ferrugens do tempo
assopra dores de alhures
é um ar que vem do mar
do tipo que seca lembranças
quebra ferros
alivia o rarefeito passado
um ar que vem e faz respirar
conserva a vida
salga a carne, outrora refém
conserva a pele sangrada
é ar do mar
chicoteia
remove o porto
cega o morto
preserva o dito roto
um ar, balanço de ninar
vagas
da minha janela
de frente para o mar que já não tenho
lanço meu olhar para longe, para quase além
esbarro na linha do horizonte e ali permaneço
no limite
no caminho
na luz
vagueio no vento
passeio pelas vagas
sinto as espumas
estou perdido
já não sei
meus olhos cansam
minha vida umedece e a linha desaparece
de frente para o mar que já não tenho
lanço meu olhar para longe, para quase além
esbarro na linha do horizonte e ali permaneço
no limite
no caminho
na luz
vagueio no vento
passeio pelas vagas
sinto as espumas
estou perdido
já não sei
meus olhos cansam
minha vida umedece e a linha desaparece
restos de sobras
sentado sobre dias
há algo de poeirento no ar
um misto de sólido e líquido
algo pastoso pesa no vazio
e avulta a correria alheia das ruas
um contra-vento no rosto
desequilibra o olhar
vergo o dorso
há lama
excessos
lágrimas largadas
estados de não-excreção
estou indigesto
cheio de algo que me sobe à boca
sinto o gosto da memória
salivo desejos
o sono ronda
à espreita
estou sonado ao meio-dia
passo em revista ao sol
fecho os olhos, mantenho-os alertas
sonhos inesperados me amedrontam
olhos para os restos
para o que não consigo
embrulho o estômago
lembro do futuro
levanto da mesa do almoço
recomeço a caminhar
há algo de poeirento no ar
um misto de sólido e líquido
algo pastoso pesa no vazio
e avulta a correria alheia das ruas
um contra-vento no rosto
desequilibra o olhar
vergo o dorso
há lama
excessos
lágrimas largadas
estados de não-excreção
estou indigesto
cheio de algo que me sobe à boca
sinto o gosto da memória
salivo desejos
o sono ronda
à espreita
estou sonado ao meio-dia
passo em revista ao sol
fecho os olhos, mantenho-os alertas
sonhos inesperados me amedrontam
olhos para os restos
para o que não consigo
embrulho o estômago
lembro do futuro
levanto da mesa do almoço
recomeço a caminhar
restos de tarde
o vento quente da tarde sopra
leva consigo a possibilidade
remove as cinzas recém-criadas
pequenas de idade
deixam o carvão
depositam a si mesmas na umidade da sombra
sobre desterrados
tenras
debruçam-se
choram frustrações
vidas cinzentas esperam no jirau sob a cruz
a claridade dói
o branco das cinzas cega os olhos
pousam em mim mas não consigo velá-las
não vejo o que me olha
o ar está quente
a respiração estremece
fico sem ar
sem respiro
sinto falta
suspiro o que resta
encho-me de vazio
limpo o suor do rosto
é líquido
é água
posso beber
mas não bebo
percebo minha mão
molhada de restos
escorre o vazio
nada sobre mim
quero levantar-me mas deito
quero abrir os olhos mas durmo
quero limpar mas canso
quero fingir mas choro
quero ir mas volto
quero pegar mas solto
quero mas não posso
leva consigo a possibilidade
remove as cinzas recém-criadas
pequenas de idade
deixam o carvão
depositam a si mesmas na umidade da sombra
sobre desterrados
tenras
debruçam-se
choram frustrações
vidas cinzentas esperam no jirau sob a cruz
a claridade dói
o branco das cinzas cega os olhos
pousam em mim mas não consigo velá-las
não vejo o que me olha
o ar está quente
a respiração estremece
fico sem ar
sem respiro
sinto falta
suspiro o que resta
encho-me de vazio
limpo o suor do rosto
é líquido
é água
posso beber
mas não bebo
percebo minha mão
molhada de restos
escorre o vazio
nada sobre mim
quero levantar-me mas deito
quero abrir os olhos mas durmo
quero limpar mas canso
quero fingir mas choro
quero ir mas volto
quero pegar mas solto
quero mas não posso
ecos frios
sob o limbo dos meus casarões antigos
respiro ecos frios de memórias
são áreas úmidas, gelam o que não há mais em mim
congelo deitado na cama envolto em imagens sólidas
o lençol é branco e pesa tal qual tela de tear
é difuso o que me separa do topo da cumeeira
não mais alcanço essas alturas
estou mais curvo, vôo baixo
o limbo, até esse enxergo pouco
só sinto o forte cheiro da sua presença
pouco vejo os entrelaçamentos das telhas
formam caminhos já percorridos
levam a lugares passados
a voltas mal dadas
a linhas finas
a tetos escorregadios
ainda a brisa escassa sopra entre as teias velhas das telhas
respiro os restos do ar de fora
estou cá, desse lado, na parte úmida da vida
respiro ecos frios de memórias
são áreas úmidas, gelam o que não há mais em mim
congelo deitado na cama envolto em imagens sólidas
o lençol é branco e pesa tal qual tela de tear
é difuso o que me separa do topo da cumeeira
não mais alcanço essas alturas
estou mais curvo, vôo baixo
o limbo, até esse enxergo pouco
só sinto o forte cheiro da sua presença
pouco vejo os entrelaçamentos das telhas
formam caminhos já percorridos
levam a lugares passados
a voltas mal dadas
a linhas finas
a tetos escorregadios
ainda a brisa escassa sopra entre as teias velhas das telhas
respiro os restos do ar de fora
estou cá, desse lado, na parte úmida da vida
um azul
um azul de cor cinza
dá o tom dessa manhã poluída
um sujeito margeia as ruas
segue beirando um meio fio de águas turvas
apalpa a sensibilidade sinuosa do dia
toma coragem
enche o peito
embaraça os pingos em face do já
sente a mistura
do seu sabor e o da garoa
ambos estão frios
espera até que o nevoeiro se deprima
fique mais próximo
que as águas cessem de passar
não corre
anda esperando
há horas
há dias
há tempos
amanhã acentua sua monocromia
está mais fria sem contraste
manhã sem tarde sem noite
sem antes nem depois
uma manhã de sarjeta plana
Dias de sabão
AO
à prisão
que eu mesmo me imponho
às amarras
a que eu mesmo me prendo
aos limites que me estabeleço
ao passo não dado
à palavra não escrita
ao ausente presente
às voltas dadas para evitar o caminho
às hesitações
aos ensaios
às estréias adiadas
à merda que cheira
que fede
que repugna
que ojeriza
e à qual eu me acostumo
ao vômito que comeria se faminto ficasse
à ética da decomposição futura
ao que eu não quero
ao que independente
que eu mesmo me imponho
às amarras
a que eu mesmo me prendo
aos limites que me estabeleço
ao passo não dado
à palavra não escrita
ao ausente presente
às voltas dadas para evitar o caminho
às hesitações
aos ensaios
às estréias adiadas
à merda que cheira
que fede
que repugna
que ojeriza
e à qual eu me acostumo
ao vômito que comeria se faminto ficasse
à ética da decomposição futura
ao que eu não quero
ao que independente
Anteparo do céu
o teto continua alvo
miro no branco
na imensidão daquilo que não vejo
na retidão do que não tem cor
do que não tem marcas aparentes
me escondo nas ranhuras escondidas na linearidade
nada penso
nada concluo
só respiro
de baixo para cima
de dentro para fora
do começo para o fim
existo sob o anteparo do céu
entre a paridade dos números
são quatro, seis, oito, doze?
são muitas retas
vidas paralelas
que só enroscam no infinito
na curva
na inevitável curva
miro no branco
na imensidão daquilo que não vejo
na retidão do que não tem cor
do que não tem marcas aparentes
me escondo nas ranhuras escondidas na linearidade
nada penso
nada concluo
só respiro
de baixo para cima
de dentro para fora
do começo para o fim
existo sob o anteparo do céu
entre a paridade dos números
são quatro, seis, oito, doze?
são muitas retas
vidas paralelas
que só enroscam no infinito
na curva
na inevitável curva
À sombra dos galhos
dias
há dias de silêncios compridos
diluídos, quase invisíveis
dias esparramados
longos a perder de vista
há dias de relógios quebrados
de tempos incontáveis
há dias que ficam
cheiram a nada
ondulam, pesam nos olhos
luzem na água da lata sobre a cabeça
sob o desequilíbrio do sol a pino
há dias que se liquefazem em toneladas
arqueiam ombros
há dias que chovem nuvens
derramam ameaças
acendem a escuridão
há dias que escorrem sobre a minha pele
deslizam e me fazem chorar
não têm melodia
são surdos, não cabem nas mãos
ouriçam pêlos
arrepiam almas
secam salivas
há dias sem sentidos
são esses que se apossam de mim
diluídos, quase invisíveis
dias esparramados
longos a perder de vista
há dias de relógios quebrados
de tempos incontáveis
há dias que ficam
cheiram a nada
ondulam, pesam nos olhos
luzem na água da lata sobre a cabeça
sob o desequilíbrio do sol a pino
há dias que se liquefazem em toneladas
arqueiam ombros
há dias que chovem nuvens
derramam ameaças
acendem a escuridão
há dias que escorrem sobre a minha pele
deslizam e me fazem chorar
não têm melodia
são surdos, não cabem nas mãos
ouriçam pêlos
arrepiam almas
secam salivas
há dias sem sentidos
são esses que se apossam de mim
sem reflexo
diante de mim
passo os olhos pelo tempo
centrado no velho que imaginava
quando novo
desconfiado de que nunca fui meu reflexo
e
temeroso de que aquele fosse meu auto-retrato
disperso
tropeço em traços que por ora não vejo
envergonho-me da imagem que transpareço
e que talvez só eu mesmo veja
olho-me
e sinto saudade de alguém
ressinto a ausência
ecoa uma vastidão dolorida de incertezas
tremo porque sou passado
e meu reflexo virou sombra
não consigo escarrar-me
sou retido pelo meu próprio fluido
meus olhos se amesquinham
é o espelho
é o dia
foi a noite
quem sabe a luz
por favor
alguém?
alguém por aí?
quem sabe o que me traduz?
aquele ali sou eu
não sou o que imaginava
nunca serei
passo os olhos pelo tempo
centrado no velho que imaginava
quando novo
desconfiado de que nunca fui meu reflexo
e
temeroso de que aquele fosse meu auto-retrato
disperso
tropeço em traços que por ora não vejo
envergonho-me da imagem que transpareço
e que talvez só eu mesmo veja
olho-me
e sinto saudade de alguém
ressinto a ausência
ecoa uma vastidão dolorida de incertezas
tremo porque sou passado
e meu reflexo virou sombra
não consigo escarrar-me
sou retido pelo meu próprio fluido
meus olhos se amesquinham
é o espelho
é o dia
foi a noite
quem sabe a luz
por favor
alguém?
alguém por aí?
quem sabe o que me traduz?
aquele ali sou eu
não sou o que imaginava
nunca serei
ruínas de mim
sou substrato do não sei
também sobras do já fui
caraminguás não contei
sou aquele que a cada dia rui
máscaras sobrepostas
encobrem o medo de mim
revelam o ardor nas costas
e, sem meu querer, meu fim
faces não reconheço
olhares não são meus
nuances eu não meço
a mim sempre disse adeus
olho os eus e vejo meu berço
e sinto os teus como os meus
também sobras do já fui
caraminguás não contei
sou aquele que a cada dia rui
máscaras sobrepostas
encobrem o medo de mim
revelam o ardor nas costas
e, sem meu querer, meu fim
faces não reconheço
olhares não são meus
nuances eu não meço
a mim sempre disse adeus
olho os eus e vejo meu berço
e sinto os teus como os meus
nunca
quem nunca morreu um dia
não sabe o que é viver
quem nunca quis matar
não sabe o que é viver
quem nunca quis morrer
não saber o que é viver
quem nunca precisou ser salvo
não sabe o que é viver
quem nunca salvou
não sabe o que é viver
quem nunca decidiu não salvar
não sabe o que é viver
quem nunca recusou ser salvo
não sabe o que é viver
quem nunca ficou sem resposta
não sabe o que é viver
quem nunca perdeu o rumo
não sabe o que é viver
quem nunca disse nunca
não sabe o que é viver
quem nunca chorou por nada
não sabe o que é viver
quem nunca viveu
não saberá o que é morrer
não sabe o que é viver
quem nunca quis matar
não sabe o que é viver
quem nunca quis morrer
não saber o que é viver
quem nunca precisou ser salvo
não sabe o que é viver
quem nunca salvou
não sabe o que é viver
quem nunca decidiu não salvar
não sabe o que é viver
quem nunca recusou ser salvo
não sabe o que é viver
quem nunca ficou sem resposta
não sabe o que é viver
quem nunca perdeu o rumo
não sabe o que é viver
quem nunca disse nunca
não sabe o que é viver
quem nunca chorou por nada
não sabe o que é viver
quem nunca viveu
não saberá o que é morrer
sem vento
já estive em pé
agora estou sentado
e talvez ainda deite
sobre essas molas brancas de areia secas
em cima das quais tento me ajeitar
sob um sol sufocante
respiro pelo mar
balanço pela linha do horizonte
passo pela arrebentação
e ando pela planície do mar
uma brisa recente refresca meu olhar
o céu está cálido
da cor azul do fundo do mar
daqui de onde estou
o barquinho não vai
nem pra lá
nem pra cá
está parado depois das ondas
num balanço curto
numa espera absurda
não sabe que não há vento
nem para navegar
muito menos há praia para aportar
está à deriva
ele no mar
e eu cá
agora estou sentado
e talvez ainda deite
sobre essas molas brancas de areia secas
em cima das quais tento me ajeitar
sob um sol sufocante
respiro pelo mar
balanço pela linha do horizonte
passo pela arrebentação
e ando pela planície do mar
uma brisa recente refresca meu olhar
o céu está cálido
da cor azul do fundo do mar
daqui de onde estou
o barquinho não vai
nem pra lá
nem pra cá
está parado depois das ondas
num balanço curto
numa espera absurda
não sabe que não há vento
nem para navegar
muito menos há praia para aportar
está à deriva
ele no mar
e eu cá
maresia de espera
O mar choroso de um dia chuvoso
debulha seu chorume sobre a praia
desenha com o seu silêncio
com a sua calmaria
que lhe é rara,
o destino de quem
ao lembrá-lo
também chora
esconde-me atrás do seu
cortinado de chuva
abarca todo esse sentimento de vagas
assovia o seu remanso nas minhas lembranças
retira das suas águas o que em mim deságua
chuva que vaza
e traga o mar dos escondidos
choraminga o tempo
de um mar sem sol
que pinga
ondas de brisa
lençol de água a mexer embaixo
bem profundamente
mar tingido de chuva
é devagar
de ondas alongadas
sem espuma
sem arrebentação
não há paz nessa calmaria
só maresia de espera
debulha seu chorume sobre a praia
desenha com o seu silêncio
com a sua calmaria
que lhe é rara,
o destino de quem
ao lembrá-lo
também chora
esconde-me atrás do seu
cortinado de chuva
abarca todo esse sentimento de vagas
assovia o seu remanso nas minhas lembranças
retira das suas águas o que em mim deságua
chuva que vaza
e traga o mar dos escondidos
choraminga o tempo
de um mar sem sol
que pinga
ondas de brisa
lençol de água a mexer embaixo
bem profundamente
mar tingido de chuva
é devagar
de ondas alongadas
sem espuma
sem arrebentação
não há paz nessa calmaria
só maresia de espera
ser tão
as minhas veias internas secaram
secaram por eu ser não
as lágrimas não me regam, secam-me de solidão
seco tal qual maré desregrada
como flor não regada
como dor danada
às vezes não sei porque não.... mas do nada me renego
e para o nada me passo
a regar o vaso
a nadar no raso
a fingir que faço
sem margens, sem vazão
secaram por eu ser não
as lágrimas não me regam, secam-me de solidão
seco tal qual maré desregrada
como flor não regada
como dor danada
às vezes não sei porque não.... mas do nada me renego
e para o nada me passo
a regar o vaso
a nadar no raso
a fingir que faço
sem margens, sem vazão
trocas
suspenso pela sombra da espera
permaneço imerso
em mim
de olho no que possa dali sair
e a quem possa se acaso há bossa
o que está ali interessar
escurecido pelo tempo
retenho o ego que coço
até gozar
sozinho,
sem o risco do outro a espiar
não, ainda não posso
com isso lidar
prefiro o medo em riste
mesmo que com isso fique triste
não, ainda não posso
expor o que não posso trocar
se a cada verso aludido
cada um falado, não retido
ainda me sinto sem algo
que antes justificava o despertar
permaneço imerso
em mim
de olho no que possa dali sair
e a quem possa se acaso há bossa
o que está ali interessar
escurecido pelo tempo
retenho o ego que coço
até gozar
sozinho,
sem o risco do outro a espiar
não, ainda não posso
com isso lidar
prefiro o medo em riste
mesmo que com isso fique triste
não, ainda não posso
expor o que não posso trocar
se a cada verso aludido
cada um falado, não retido
ainda me sinto sem algo
que antes justificava o despertar
versos úmidos
hoje perdi um poema
sumiu
como tantos outros se foi
era sobre as tardes que também já se foram
talvez fosse sobre as perdas
sobre aquelas que ficam
rememoradas de tempos em tempos
aquelas que se esquecem
e que nas tardes úmidas reaparecem
porque agora insisto em ser poeta
sumiu
como tantos outros se foi
era sobre as tardes que também já se foram
talvez fosse sobre as perdas
sobre aquelas que ficam
rememoradas de tempos em tempos
aquelas que se esquecem
e que nas tardes úmidas reaparecem
porque agora insisto em ser poeta
o que mais me dói
o que mais me dói
é a terra batida pela água
é a umidade do futuro
que encharca meu presente
o que mais me dói
é não saber e querer saber o nada
é o significado do depois
que adia o meu recente
o que mais me dói
é a areia trazida pelo vento
é a escuridão do branco
que gruda na mente
o que mais me dói
é o que mais me dói
é o que não vai
e que emperra a gente
o que mais me dói
é o dito pelo mais dito
é o que repete o gesto
e faz de tudo um verso
é a terra batida pela água
é a umidade do futuro
que encharca meu presente
o que mais me dói
é não saber e querer saber o nada
é o significado do depois
que adia o meu recente
o que mais me dói
é a areia trazida pelo vento
é a escuridão do branco
que gruda na mente
o que mais me dói
é o que mais me dói
é o que não vai
e que emperra a gente
o que mais me dói
é o dito pelo mais dito
é o que repete o gesto
e faz de tudo um verso
além da mão
olho para minha mão
e vejo
sob a superficialidade,
as veias da vida
o veio do sertão
o sangue da pulsão
as artérias da confusão
a possibilidade da convulsão
olho para a minha mão
e vejo
sob a vida
a morte esquelética
ossos magros
tortos que se escondem
sob a tez da escuridão
aquela que espreita
ossos de dobradiças
retorcem em unhas que permanecem
olho para a minha mão
percebo
e vejo
depois da vida
e da morte
sombras de um beijo
e vejo
sob a superficialidade,
as veias da vida
o veio do sertão
o sangue da pulsão
as artérias da confusão
a possibilidade da convulsão
olho para a minha mão
e vejo
sob a vida
a morte esquelética
ossos magros
tortos que se escondem
sob a tez da escuridão
aquela que espreita
ossos de dobradiças
retorcem em unhas que permanecem
olho para a minha mão
percebo
e vejo
depois da vida
e da morte
sombras de um beijo
açoite
há momentos do dia
em que há dia e há noite
nos quais quase morria
no subjetivo açoite
e esqueço até o que mesmo ardia
em que há dia e há noite
nos quais quase morria
no subjetivo açoite
e esqueço até o que mesmo ardia
um e outro
uma arma
um grito. um silêncio.
um sentimento
de ódio. talvez não.
um pensamento. intenso, contido.
de incompreensão.
uma pergunta.
várias respostas. todas válidas
iguais. sem solução
outro sentimento. de repulsa
de exclusão
outro pensamento.
de sujeição. de vergonha.
de decepção.
outra arma. outra perseguição.
outro grito. outro silêncio
tudo de novo. repetição
um grito. um silêncio.
um sentimento
de ódio. talvez não.
um pensamento. intenso, contido.
de incompreensão.
uma pergunta.
várias respostas. todas válidas
iguais. sem solução
outro sentimento. de repulsa
de exclusão
outro pensamento.
de sujeição. de vergonha.
de decepção.
outra arma. outra perseguição.
outro grito. outro silêncio
tudo de novo. repetição
sobras
uma voz
uma sobra de voz
um sabor de lamento
trazido de lugares sumidos
por um chamado esperado
de uma voz conhecida
que nunca antes ouvida
roubou de mim a solidão
assentou-me debaixo da sombra
de uma mangueira escamosa
no jirau molhado perto da janela
da cozinha da casa de barro
que, torta, pende para o desmedido
que, teimosa, revolve o lodo escondido
onde o tempo nada no vento
vagas resvalam no meu rosto
e lá me contam histórias que
acredito
verdadeiras
mas o tempo se afoga no vento
e só memoriza brisas
reinvento meu passado
poetizo quem eu fui
construo-me
para que aqui
no presente
tudo se desfaça
com precedentes
uma sobra de voz
um sabor de lamento
trazido de lugares sumidos
por um chamado esperado
de uma voz conhecida
que nunca antes ouvida
roubou de mim a solidão
assentou-me debaixo da sombra
de uma mangueira escamosa
no jirau molhado perto da janela
da cozinha da casa de barro
que, torta, pende para o desmedido
que, teimosa, revolve o lodo escondido
onde o tempo nada no vento
vagas resvalam no meu rosto
e lá me contam histórias que
acredito
verdadeiras
mas o tempo se afoga no vento
e só memoriza brisas
reinvento meu passado
poetizo quem eu fui
construo-me
para que aqui
no presente
tudo se desfaça
com precedentes
a voz
a voz
a vós
a mim
a ti
a nós
a ida
a vinda
a volta
a solidão
a vida
a dor
a cor
o odor
a insistência
o despudor
o humor
o corte
a sorte
o porte
a negação
a morte
a outra
a tonta
o mantra
a fé
a ilusão do contra
a vós
a mim
a ti
a nós
a ida
a vinda
a volta
a solidão
a vida
a dor
a cor
o odor
a insistência
o despudor
o humor
o corte
a sorte
o porte
a negação
a morte
a outra
a tonta
o mantra
a fé
a ilusão do contra
virtual
às escuras do dia
alguém me acode
estava errante
sentado na cadeira
não sei o que via
a que vazio me defrontava?
aquela sombra
quase apagada refletida por engano no meu sorriso, era quase eu
estava preso em frente a mim
instado num estado de espelho
dividido
pensando em existir
sair da minha virtualidade
alguém me acode
estava errante
sentado na cadeira
não sei o que via
a que vazio me defrontava?
aquela sombra
quase apagada refletida por engano no meu sorriso, era quase eu
estava preso em frente a mim
instado num estado de espelho
dividido
pensando em existir
sair da minha virtualidade
pocaína
o ar rareia na aridez
no deserto que é só meu
na sede que não sabia
no pó que não cheirei
caminho pela caatinga e repilo o cheiro
o ar rareia na aridez
de olhar estorricado
visto as rugas da tez
e a falta de palavreado
enquanto choro, seco, junto pedaços da minha pele quebradiça
pela garganta ferida
engulo seco o vazio
ensaio e aborto vômitos
saboreio o que gosto
perscruto os meus gritos
e permaneço aberto e posto
feito conta-gotas, sofro
arranho, disseco
mas tudo pouco importa
se um dia o ar rareia e some
no deserto que é só meu
na sede que não sabia
no pó que não cheirei
caminho pela caatinga e repilo o cheiro
o ar rareia na aridez
de olhar estorricado
visto as rugas da tez
e a falta de palavreado
enquanto choro, seco, junto pedaços da minha pele quebradiça
pela garganta ferida
engulo seco o vazio
ensaio e aborto vômitos
saboreio o que gosto
perscruto os meus gritos
e permaneço aberto e posto
feito conta-gotas, sofro
arranho, disseco
mas tudo pouco importa
se um dia o ar rareia e some
meado
sou meio manco
metade de algo
caminho em solavanco
carrego ranços
sou meio manco
desnivelado, sem prumo
confuso, não enxergo o flanco
arrasto a perda do rumo
sou meio...
manco também
vivo, quase morto
na margem
um bocado terra, outro água
sou meado
um tantão preto
um tacho de macho
nem primeiro
tampouco derradeiro
sou do meio
divisor de nada
pouco lembrado e um quanto esquecido
metade de algo
caminho em solavanco
carrego ranços
sou meio manco
desnivelado, sem prumo
confuso, não enxergo o flanco
arrasto a perda do rumo
sou meio...
manco também
vivo, quase morto
na margem
um bocado terra, outro água
sou meado
um tantão preto
um tacho de macho
nem primeiro
tampouco derradeiro
sou do meio
divisor de nada
pouco lembrado e um quanto esquecido
subs
ser substituído
trocado, passado
ter laços puídos
sentimentos ruídos
planos rasgados
ter o chão tirado
o eixo quebrado
o paladar estragado
ser cegado
cindir o ser emulado
separado
retornado, transtornado
arrebatá-lo, impeli-lo
a escarrar raiva,
a babar ódio
a rejeitar o óbvio
a trans pirar
ser alucinado
amuado, o ser amaina
definha
embrutece
entristece
amolece
adormece
renasce
acordado
cordato
centrado
reincorpora
corrobora
pondera
quem dera perdoasse
amasse
revertera
trocado, passado
ter laços puídos
sentimentos ruídos
planos rasgados
ter o chão tirado
o eixo quebrado
o paladar estragado
ser cegado
cindir o ser emulado
separado
retornado, transtornado
arrebatá-lo, impeli-lo
a escarrar raiva,
a babar ódio
a rejeitar o óbvio
a trans pirar
ser alucinado
amuado, o ser amaina
definha
embrutece
entristece
amolece
adormece
renasce
acordado
cordato
centrado
reincorpora
corrobora
pondera
quem dera perdoasse
amasse
revertera
debastando horas
uma moleza com hora marcada
uma respiração funda
afunda a minha alma
deixa-a
numa preguiça pegajosa
que lambrega meus olhos
que lentamente
desliza num tempo escorregadio
e sem que eu perceba
suspende a minha inspiração
adia a minha expiração
expiro
profunda e demoradamente
não durmo
nem acordo
fico
sem ter nem para quê
largado em mim
digerindo
debastando horas
dói viver
ter de me mexer
uma respiração funda
afunda a minha alma
deixa-a
numa preguiça pegajosa
que lambrega meus olhos
que lentamente
desliza num tempo escorregadio
e sem que eu perceba
suspende a minha inspiração
adia a minha expiração
expiro
profunda e demoradamente
não durmo
nem acordo
fico
sem ter nem para quê
largado em mim
digerindo
debastando horas
dói viver
ter de me mexer
o sol lá de fora
o sol está lá fora
é lá o seu lugar
sempre foi
quanto ao meu
não sei
estou aqui
e nunca tive medo do sol
mas descoro há tempos
sublimo no suor retido em poros
vago à minha volta
faço sombra sem rebater o sol
gosto do sol que não vejo
o do receio
onde é aqui, agora, neste momento?
ao sol cabe o universo afora
a mim, o que aflora
ademais
o que eu posso fazer com o que me cora?
é lá o seu lugar
sempre foi
quanto ao meu
não sei
estou aqui
e nunca tive medo do sol
mas descoro há tempos
sublimo no suor retido em poros
vago à minha volta
faço sombra sem rebater o sol
gosto do sol que não vejo
o do receio
onde é aqui, agora, neste momento?
ao sol cabe o universo afora
a mim, o que aflora
ademais
o que eu posso fazer com o que me cora?
exageros de mim
carrego uma tonelada de nada
de coisa alguma
carrego-me
agüento esse peso desmedido
de alguém sem leveza
pensado
dou voltas em torno de mim
caio sobre mim
e não deixo marca no chão
estou morto sem corpo
sem desenho
sem esboços do que eu fui
nunca estive aqui
nunca fui eu
nem o outro
não há como reconhecer-me
não há vestígios de que eu haveria de ser
passei assim
ao léu
desapercebido
do qual ninguém lembra
confundido com outro
sempre visto
nunca reconhecido
sou um sombra
uma dúvida
uma possibilidade
desmancho no ar
de coisa alguma
carrego-me
agüento esse peso desmedido
de alguém sem leveza
pensado
dou voltas em torno de mim
caio sobre mim
e não deixo marca no chão
estou morto sem corpo
sem desenho
sem esboços do que eu fui
nunca estive aqui
nunca fui eu
nem o outro
não há como reconhecer-me
não há vestígios de que eu haveria de ser
passei assim
ao léu
desapercebido
do qual ninguém lembra
confundido com outro
sempre visto
nunca reconhecido
sou um sombra
uma dúvida
uma possibilidade
desmancho no ar
como um porre
um vento percorre
ventila meios
escapa entre anseios
um vento vem não sei de onde
e tira de mim o sustento
resvalo num porre
ventila meios
escapa entre anseios
um vento vem não sei de onde
e tira de mim o sustento
resvalo num porre
Ao meio
quando fecho os olhos no meio do dia
a escuridão dos inversos amolece a minha lida
revisto meus trajes de desespero
e vou caminhar em trevos
circular pela minha órbita
pairar sobre a minha cabeça
e ver
de fora
a inércia
premedito e repito
e assim
nessa letargia
descanso no braço
e me esgarço sem sentido
na bicha preguiça
quando fecho os olhos no meio do dia
a minha cabeça pesa
reza por nada
vazio de toneladas
a resistência trinca
a cada dia
tiro lascas de sobrevivência
livro-me de mim
a escuridão dos inversos amolece a minha lida
revisto meus trajes de desespero
e vou caminhar em trevos
circular pela minha órbita
pairar sobre a minha cabeça
e ver
de fora
a inércia
premedito e repito
e assim
nessa letargia
descanso no braço
e me esgarço sem sentido
na bicha preguiça
quando fecho os olhos no meio do dia
a minha cabeça pesa
reza por nada
vazio de toneladas
a resistência trinca
a cada dia
tiro lascas de sobrevivência
livro-me de mim
mar da noite
Parido
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