terça-feira, 20 de maio de 2008

saiu

Bateu a porta e
deixou a vida entreaberta
deitada num vão de um transe
iluminada de ausência
a luz de fora me escurece
fiquei ali sentada na espera
ilhada
sem ponte
sem barco
e sem vontade de atirar-me ao mar
submersa na secura de sexta-feira
não terei mais sábados
só domingos
me adiantarei antes que a segunda amanheça

Às voltas

Estar às voltas
Rodando em si
Numa espiral infinita de opostos
Que não se refaz
Que é
Que nunca foi tampouco será
Está aqui
Não ali
Afogada numa ansiedade irremediável de fugas distorcidas
De um não querer camuflado pela covardia de ser aceitável
Caminho sobre mim e não vejo marcas
Em cada passo dado ou ensaiado
Voltar sem remissões a idas
O movimento suspenso cai
Alinha referência
Salienta a gravidade do dia-a-dia
É para cima que ele vai
Encobre a realidade que mesmo sendo minha
É inventada pelo outro
Por que não saíste?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Apagado

Um avião sobrevoa a cidade
O céu está claro
As roupas quaram
E o tempo sopra sobre sobras
De alguém de quem não há mais vintém
O vento enforna passados
Manuseia nuvens
Balança memórias sobre sombras
Vai lá
E volta cá
Diz pra mim o que será
Me recorda o que foi
Acende a vela de luz amarela
Que meu suspiro apagou